Antes de começar, cabe-nos esclarecer que o próprio evangelho nos ensina que pais não são somente os biológicos, mas também aqueles que, por diferentes circunstâncias, assumiram o papel de pai ou mãe, dando todo amparo e afeto para aquele que tomou como filho, sendo isso, um exemplo de caridade sem igual.
Lembramos também que, vamos abordar aqui os deveres dos filhos do ponto de vista das leis morais, acreditando que uma vez seguidas essas leis, jamais precisaremos recorrer as leis terrenas, para obrigar que um filho cuide de seus país, uma vez que, salvo as necessidades materiais básicas, o amor filial não se impõe com leis terrenas, nasce-se com ele.
Mas por que falar em deveres dos filhos em pleno século XXI? Afinal, isso parece claro há mais de 3 mil anos quando no decálogo, recebido por Moisés, estava gravado:
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará.” Êxodo 20:12
Porém, da mesma forma que o profeta Moisés precisou utilizar das leis divinas para controlar um povo, com hábitos ainda primitivos, hoje, devido à realidade que vivemos, temos que nos valer das mesmas leis para lembrar alguns filhos de seus deveres mais importantes com os pais, principalmente no mundo atual, onde a tecnologia mais distancia do que aproxima pais e filhos.
Além deste obstáculo, criado pelas tecnologias, não são raros os casos de filhos que abandonam seus pais, negando-lhes à assistência necessária, principalmente na velhice, ou até mesmo, explorando-os, muitas vezes, fisíca e financeiramente.
Sem dizer ainda daqueles que, tomados pelas más inclinações ou influenciados de diversas maneiras, sobretudo pelo consumo de todo tipo de drogas, ceifam a vida dos próprios pais. Tornam-se assassinos daqueles que lhe deram a oportunidade de renascer neste mundo, afim de cumprir seu plano reencarnatório.
Talvez seja por isso e por outros tantos motivos, que o Consolador Prometido, através do Espírito da Verdade, veio para relembrar a humanidade da importância do amor e da caridade ao próximo, que o Cristo nos ensinou, mas que por ora estão esquecidos, principalmente entre os filhos.
Como recompensa por honrar pai e mãe, os hebreus tiveram a promessa que teriam seus dias prolongados neste mundo para receber a Terra prometida. Apesar do povo hebreu sonhar com a Terra prometida, um lugar físico em um espaço geográfico, hoje o Espiritismo nos ensina que a nossa recompensa para honrar pai e mãe é, na verdade, a promessa de vivermos em um mundo bem diferente deste que vivemos, saindo de um mundo de provas e expiações, para entrarmos em um outro mundo, onde o bem e o belo prevalecem, aquele que muitos chamam de céu. O próprio Cristo nos avisou que o seu Reino não era deste mundo, então, nossa recompensa não será recebida aqui, mas sim no seu Reino.
No livro Leis Morais da Vida, Joanna de Ângelis, lembra-nos o quão difícil é mensurar o valor devido de um filho para com seus pais:
“Toda a gratidão sequer retribuirá a fortuna da oportunidade fruída através do renascimento carnal. O carinho e respeito contínuos não representarão oferenda compatível com a amorosa assistência recebida desde antes do berço. A delicadeza e a afeição não corresponderão à grandeza dos gestos de sacrifício e da abnegação demoradamente recebidos. Os filhos têm deveres intransferíveis para com os pais, instrumentos de Deus para o trâmite da experiência carnal, mediante a qual o Espírito adquire patrimônios superiores, resgata insucessos e comprometimentos perturbadores.”
Honrar pai e mãe, nada mais é que praticar o amor ao próximo e a caridade, na sua essência, uma vez que as primeiras pessoas que amamos, desde o início de nossa vida carnal, e não por acaso, são nossos pais. O livro dos Espíritos, questão 681, explica que “[…] Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural”.
Kardec nos lembra que , “Honrar a seu pai e sua mãe, não é somente respeitá-los: é assisti-los na necessidade, proporcionar-lhes o repouso na velhice, cercá-los de solicitude como fizeram por nós em nossa infância.” – O Evangelho Segundo Espiritismo Cap. XIV, ítem 3
Muitos, porém, devem estar se perguntando: “ Mas como honrar alguns pais, que muitas vezes, abandonam seus filhos, fugindo de suas responsabilidades, não só financeira mas principalmente se furtando de um convívio afetivo com os filhos? “
Aqui vale ressaltar que, reencarnamos no mesmo ambiente familiar não por acaso, mas sim, para resgatar certas dívidas passadas, lembrando que a justiça divina não falha. O filho de hoje, pode ter sido o pai negligente de ontem e por isso, estão juntos novamente, muitas vezes em papéis invertidos, para exatamente se harmonizarem. Porém, não são poucos os que falham nesta missão reconciliadora e isso nós sabemos bem, pois falhamos todos os dias quando preferimos mais criticar as falhas do que perdoar aqueles que, nós mesmos, escolhemos como nossos pais no momento do nosso plano reencarnatório.
Sobre isso, Joanna de Ângelis nos esclarece:
“Existem genitores que apenas procriam, fugindo à responsabilidade. Não compete, porém, aos filhos julgá-los com severidade, desde que não são dotados da necessária lucidez e correção para esse fim. Se fracassaram no sagrado ministério, não se furtarão à consciência, em forma da presença da culpa neles gravada.”
Esta é a chamada piedade filial, encontrada no Evangelho Segundo Espiritismo, que significa que cabe aos filhos honrar seus pais, sempre. E cabe somente a Deus julga-los e puni-los, diante de suas falhas.
Lembre-se, um erro não justifica outro, sobretudo em relação aos pais. A ingratidão dos filhos com os pais é pior pecado que se pode cometer durante nossa reencarnação.
No trecho a seguir, Joanna nos lembra como devemos nos comportar durante as fases de convivência com nossos pais:
“Ama e respeita em teus genitores a humana manifestação da paternidade divina. Quando fortes, sê-lhes a companhia e a jovialidade; quando fracos, a proteção e o socorro. Enquanto sadios, presenteia-os com a alegria e a consideração; se enfermos, com a assistência dedicada e a sustentação preciosa.”
Vez ou outra, alguns filhos falham em algumas dessas fases, sobretudo na última, já na velhice dos genitores. Por isso, não são raros os que chegam na casa espírita buscando mensagens dos pais que já desencarnaram. Ao serem encaminhados ao atendimento fraterno, se dizem arrependidos por não terem dado o amor e afeto necessário, aos seus pais enquanto estavam encarnados. Encontram-se tão tristes, que buscam uma última chance de comunicação para dizer o quanto amavam ou o quanto se arrependem de não terem dado o amparo necessário para aqueles, que um dia, lhe deram a vida. Não sabem, porém, que a comunicação para ambos a partir de agora fica mais difícil, pois a mesma depende de uma permissão divina. E essa dádiva, na maioria da vezes, como bem sabemos, não é alcançada assim tão rapidamente.
“Em qualquer situação ou circunstância, na maturidade ou na velhice, afeiçoa-te àqueles que te ofertaram o corpo de que te serves para os cometimentos da evolução, como o mínimo que podes dispensar-lhes, expressando o dever de que te encontras investido.” – Joanna de Ângelis
O exemplo maior, que devemos honrar os pais em qualquer circunstância vem, é claro, do próprio Cristo, quando no final do seu martírio, ao enxergar sua mãe e seu discípulo amado, orienta:
“Mulher, eis o teu filho! Depois olha para o discípulo e diz: Eis aí a tua mãe” – João 19:25-27
Apesar de toda dor, no momento da despedida, Jesus ainda se preocupa em não deixar a mãe desemparada, então pede, ao discípulo amado, que cuide de sua mãe com o cuidado e o amor que somente um verdadeiro filho pode ter.
A reflexão de hoje, serve para nos lembrar que devemos assistir nossos pais em todos os momentos, principalmente na velhice, como nos ensina o Evangelho. E lembrar a todos os filhos, que é mais fácil dizer um “eu te amo pai, eu te amo mãe” aqui e agora, do que tentar faze-los ouvir após sua despedida, que muitos esquecem que um dia irá chegar.
Referências
Livro: Leis Morais da Vida, Cap. 17 – Deveres dos Filhos. Divaldo Franco pelo espírito de Joanna de Ângelis
Livro: O Evangelho Segundo Espiritismo – Capítulo XIV – Itens 1 a 3 – Allan Kardec
Livro dos Espíritos – Allan Kardec
Emocionante.
Eu me preocupo muito e estou numa luta imensa para calar minhas críticas. Estou cada vez mais pacífica. Mas foi um caminho bem longo e não tem dia e nem hora pra concluir. Muito sábia essas palavras. Abraço
Que linda e profunda reflexão!
Dou graças a Deus Pai, pelos pais que me deram a vida, oportunidade de lapidar meu espírito.
Que nunca me esqueça desta tão generosa benção.
Permita-me senhor vibra e orar por meu pai que já não está mais comigo nesta caminhada, como forma de agradecê-lo por minha existência terrestre e que eu possa continuar ao lado de minha mãe, amiga, companheira, orientadora, bebendo de sua sabedoria e experiência e aproveitando o máximo possível desta companhia.